II PARTE
... continuação
Nos termos de um registo paroquial, havia em Póvoa do Concelho, em 1758,
152 fogos e atinge o máximo de população, de que há memória, de mais de 1 000
habitantes, em 1950. Tendo em linha de conta os dados estatísticos do último
censos, que teve lugar em 2011, verifica-se um número preocupante de 281
habitantes e de 237 fogos. Constata-se, como é óbvio, uma tendência negativa
progressiva de população, resvalando para uma situação de autêntica
desertificação, salvo se em sentido oposto e de forma muito séria, nada seja
feito numa zona rural do interior como esta, na qual se insere esta freguesia.
A apresentação do gráfico demonstra, de forma
elucidativa, a evolução demográfica de Póvoa do Concelho, sendo reflexo de
vários factores, entre eles, __ de enorme impacto __ o
fenómeno de emigração, com especial realce, nas décadas de 40, a 70 do século
passado, para os continentes da América (Brasil), África (ex-províncias
ultramarinas, Angola), privilegiando ainda os países do Velho Continente
Europeu (França, Suíça e Alemanha) e, com abrandamento, nas seguintes,
voltando, no dealbar do séc. XXI a acentuar-se.
Revela-se
ser uma localidade muito laboriosa que, nos seus tempos áureos, tinha uma
produção agrícola invejável no que concerne às culturas de cereais, castanha, azeite,
batata e vinho. Em complemento, existia também a actividade da pastorícia, que
conjuntamente com o gado bovino, constituíam as fontes básicas de receita e de
subsistência de outrora, muito embora, nos tempos actuais ainda haja quem se
dedique à exploração de gados bovino e ovino.
Não só,
mas também as ribeiras, atrás identificadas, __ principalmente na
sua confluência __ facilitavam a construção e existência de algumas
azenhas e pelo menos a ocupação de 2 moleiros que se dedicavam à moagem,
deixando de laborar nos anos de 1954 e 1964, respectivamente. Dos inquéritos
paroquiais, consta que já no séc. XVIII existia aqui um moinho.
À
actividade normal agrícola e seu crescimento, associa-se a criação do mercado
mensal, por acórdão camarário de 13/05/1885, que ocorria no 3º domingo,
aproveitando o amplo espaço do “Lugar da Mata”, onde robustos e vetustos
castanheiros e oliveiras ofereciam aos feirantes e visitantes a sombra
aprazível nos tórridos dias do estio. Surge mais tarde, em data incerta, a
alteração do dia do mercado, que por deliberação superior ou determinação dos
interesses locais e dos feirantes, passou a realizar-se na 3ª segunda-feira de
cada mês. Apraz anotar que o acontecimento trágico do ciclone, em 1941, este
belo local, sala de visitas da aldeia, ficou reduzido a pouco mais de meia
dúzia dessas árvores heróicas que resistiram à fúria destruidora dessa
intempérie. Mais tarde (numa data imprecisa do séc. XX), surgiu uma feira anual
de S. António (13/06), que se realizava no lugar do mercado, dando especial
realce ao “Encontro” de belos exemplares da raça cavalar, proporcionando
aos seus proprietários exibir as suas espécies de estimação, bem como
aproveitar transaccioná-las, à época, por bons preços, por vezes, com acertos e
desacertos, e barafundas à mistura um tanto ao quanto violentas, sendo algumas
dirimidas no tribunal da Comarca de Trancoso. Tanto o mercado como a feira, com
maior relevância para aquele do que para esta, contribuíram para o
florescimento do comércio da freguesia, resultando daí que, e em conformidade
com uma amostra de registos fidedignos de 1917, António Joaquim Balthazar, José
Caetano Jorge e Manuel Caetano Jorge Júnior, avantajados agricultores e
ilustres conterrâneos, figuravam entre os 40 maiores contribuintes do concelho,
fazendo-os integrar no pódio dos mais ricos da região.
Embora não
se disponha de uma data exacta da extinção do mercado, tudo leva a crer que
tenha acontecido na segunda metade da década de 30 do século passado, com base
na memória e relato credíveis de conterrâneos, conhecedores da história da
minha/nossa terra. As causas dessa extinção e transferência para a localidade
de Vila Franca das Naves (no que respeita ao mercado) poderão ser várias e
discutíveis. Contudo, as mais consensuais são aquelas que se prendem com o
desenvolvimento da mencionada aldeia (foi elevada à categoria de Vila a
9 de Dezembro de 2004), principalmente o aglomerado populacional situado nas
imediações da estação do caminho de ferro, estendendo-se pela avenida
principal, onde surgiam lojas de comércio diverso que abasteciam as aldeias
vizinhas, bem como o aparecimento, em simultâneo, de negociantes que se
dedicavam à compra de produtos agrícolas e que, tirando partido do meio de
transporte valioso do caminho de ferro, procediam à venda e escoamento dos
mesmos para os grandes centros urbanos.
Mudando de
tom, não me levarão a mal os meus amigos e bons vizinhos vilafranquenses em ter
a ousadia de os provocar com o
inofensivo enigma: O que é que é, que antes de o ser já o era?!! É tão óbvia a
resposta que não precisam que lhes dê a solução, não é verdade?!!
A feira
anual, em Póvoa do Concelho, ainda durou mais uns anos, devido ao gosto pelos
cavalos que os donos mantinham com tenacidade, vindo acabar mais tarde em data
desconhecida. Todavia, é interessante sublinhar o ressurgimento, em 02/09/2006, do primeiro evento equestre ¾
promovido por um grupo de jovens ¾, revelando o gosto antigo por esta espécie de animais e
pela arte de bem cavalgar, cuja concentração anual tem por palco o mesmo “Lugar
da Mata”. Ali se inicia o “Encontro” equestre e se dá o arranque à
programação de eventos de carácter sócio-cultural. Posteriormente, a data deste
acontecimento foi alterada para o último domingo de Julho ou o 1º domingo de
Agosto, com vista a evitar a coincidência com a
data da festa anual de S.
Sebastião.
ZC
Continua na próxima edição do
“Olhar Diférente”
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