domingo, 5 de maio de 2013

Póvoa do Concelho



 


II PARTE


 

... continuação                 Nos termos de um registo paroquial, havia em Póvoa do Concelho, em 1758, 152 fogos e atinge o máximo de população, de que há memória, de mais de 1 000 habitantes, em 1950. Tendo em linha de conta os dados estatísticos do último censos, que teve lugar em 2011, verifica-se um número preocupante de 281 habitantes e de 237 fogos. Constata-se, como é óbvio, uma tendência negativa progressiva de população, resvalando para uma situação de autêntica desertificação, salvo se em sentido oposto e de forma muito séria, nada seja feito numa zona rural do interior como esta, na qual se insere esta freguesia.

            A apresentação do gráfico demonstra, de forma elucidativa, a evolução demográfica de Póvoa do Concelho, sendo reflexo de vários factores, entre eles, __ de enorme impacto __ o fenómeno de emigração, com especial realce, nas décadas de 40, a 70 do século passado, para os continentes da América (Brasil), África (ex-províncias ultramarinas, Angola), privilegiando ainda os países do Velho Continente Europeu (França, Suíça e Alemanha) e, com abrandamento, nas seguintes, voltando, no dealbar do séc. XXI a acentuar-se.


Assinalam-se, assim, as sucessivas vagas de emigrações, com maior ou menor intensidade no séc. XX, cujo comportamento social se repete ciclicamente e, (in) felizmente, até aos dias de hoje. Embora as causas essenciais deste fenómeno sejam comuns a todas as épocas, o facto é que os comportamentos dos intervenientes diferem no que respeita aos emigrantes com destino aos países de acolhimento do continente europeu, mantendo regularmente a ligação com a sua Terra Natal, ao regressar, no verão, em gozo de férias. Talvez, com o sentimento da eterna saudade a impeli-los a conservar, deste modo, uma saudável e quase religiosa visita anual às raízes, aos familiares e amigos. De vez em  quando, regista-se com aplauso a decisão arrojada, de um ou outro emigrante, regressar definitivamente e, sem virar as costas à luta, dedicar-se com afinco a actividades económicas. Para espanto e exemplo de muitos eles estão aí e, coisa rara (nos dias que correm...), com sucesso.

Revela-se ser uma localidade muito laboriosa que, nos seus tempos áureos, tinha uma produção agrícola invejável no que concerne às culturas de cereais, castanha, azeite, batata e vinho. Em complemento, existia também a actividade da pastorícia, que conjuntamente com o gado bovino, constituíam as fontes básicas de receita e de subsistência de outrora, muito embora, nos tempos actuais ainda haja quem se dedique à exploração de gados bovino e ovino.

Não só, mas também as ribeiras, atrás identificadas, __ principalmente na sua confluência __ facilitavam a construção e existência de algumas azenhas e pelo menos a ocupação de 2 moleiros que se dedicavam à moagem, deixando de laborar nos anos de 1954 e 1964, respectivamente. Dos inquéritos paroquiais, consta que já no séc. XVIII existia aqui um moinho.

À actividade normal agrícola e seu crescimento, associa-se a criação do mercado mensal, por acórdão camarário de 13/05/1885, que ocorria no 3º domingo, aproveitando o amplo espaço do “Lugar da Mata”, onde robustos e vetustos castanheiros e oliveiras ofereciam aos feirantes e visitantes a sombra aprazível nos tórridos dias do estio. Surge mais tarde, em data incerta, a alteração do dia do mercado, que por deliberação superior ou determinação dos interesses locais e dos feirantes, passou a realizar-se na 3ª segunda-feira de cada mês. Apraz anotar que o acontecimento trágico do ciclone, em 1941, este belo local, sala de visitas da aldeia, ficou reduzido a pouco mais de meia dúzia dessas árvores heróicas que resistiram à fúria destruidora dessa intempérie. Mais tarde (numa data imprecisa do séc. XX), surgiu uma feira anual de S. António (13/06), que se realizava no lugar do mercado, dando especial realce ao “Encontro” de belos exemplares da raça cavalar, proporcionando aos seus proprietários exibir as suas espécies de estimação, bem como aproveitar transaccioná-las, à época, por bons preços, por vezes, com acertos e desacertos, e barafundas à mistura um tanto ao quanto violentas, sendo algumas dirimidas no tribunal da Comarca de Trancoso. Tanto o mercado como a feira, com maior relevância para aquele do que para esta, contribuíram para o florescimento do comércio da freguesia, resultando daí que, e em conformidade com uma amostra de registos fidedignos de 1917, António Joaquim Balthazar, José Caetano Jorge e Manuel Caetano Jorge Júnior, avantajados agricultores e ilustres conterrâneos, figuravam entre os 40 maiores contribuintes do concelho, fazendo-os integrar no pódio dos mais ricos da região.

Embora não se disponha de uma data exacta da extinção do mercado, tudo leva a crer que tenha acontecido na segunda metade da década de 30 do século passado, com base na memória e relato credíveis de conterrâneos, conhecedores da história da minha/nossa terra. As causas dessa extinção e transferência para a localidade de Vila Franca das Naves (no que respeita ao mercado) poderão ser várias e discutíveis. Contudo, as mais consensuais são aquelas que se prendem com o desenvolvimento da mencionada aldeia (foi elevada à categoria de Vila a 9 de Dezembro de 2004), principalmente o aglomerado populacional situado nas imediações da estação do caminho de ferro, estendendo-se pela avenida principal, onde surgiam lojas de comércio diverso que abasteciam as aldeias vizinhas, bem como o aparecimento, em simultâneo, de negociantes que se dedicavam à compra de produtos agrícolas e que, tirando partido do meio de transporte valioso do caminho de ferro, procediam à venda e escoamento dos mesmos para os grandes centros urbanos.

Mudando de tom, não me levarão a mal os meus amigos e bons vizinhos vilafranquenses em ter a ousadia de os provocar  com o inofensivo enigma: O que é que é, que antes de o ser já o era?!! É tão óbvia a resposta que não precisam que lhes dê a solução, não é verdade?!!

A feira anual, em Póvoa do Concelho, ainda durou mais uns anos, devido ao gosto pelos cavalos que os donos mantinham com tenacidade, vindo acabar mais tarde em data desconhecida. Todavia, é interessante sublinhar o ressurgimento, em 02/09/2006, do primeiro evento equestre ¾ promovido por um grupo de jovens ¾, revelando o gosto antigo por esta espécie de animais e pela arte de bem cavalgar, cuja concentração anual tem por palco o mesmo “Lugar da Mata”. Ali se inicia o “Encontro” equestre e se dá o arranque à programação de eventos de carácter sócio-cultural. Posteriormente, a data deste acontecimento foi alterada para o último domingo de Julho ou o 1º domingo de Agosto, com vista a evitar a coincidência com a  data da festa  anual de S. Sebastião.

ZC

Continua na próxima edição do “Olhar Dirente”

 

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